A França foi o país central nos avistamentos de fenómenos aéreos não identificados, durante esta vaga de 1954, que deu origem a vários trabalhos de investigação, dos quais destaco as teorias ortoténicas de Aimé Michel, cientista francês que editou vários trabalhos relacionados com esta vaga e que descobriu a conhecida linha de BAVIC, que relacionava vários avistamentos ovni, ocorridos entre as localidades francesas de Bayonne e Vichy (daí o nome de BAVIC).
No presente texto irei abordar de forma superficial o impacto da vaga de 1954, em Portugal, e muito especialmente as últimas ocorrências ovni neste ano de 2004, também centralizando-me no nosso país. Tentarei ainda explicar o porquê de podermos estar na eminência, ou já a meio, de uma nova vaga ovni. No final especularei um pouco sobre o fenómeno “vaga”, dentro da fenomenologia ovni, e ainda sobre os fenómenos ovni de uma forma geral.
A Vaga de 1954 em Portugal
Como é normal, não foi só a França que foi “atingida” pelo crescimento anormal de avistamentos ovni e mesmo EI 3º Grau (Encontros Imediatos de 3º Grau – Hynek), durante o distante ano de 1954. O nosso território nacional, incluindo as regiões autónomas, também teve um crescimento anormal de observações ovni e mesmo EI 3º Grau.
Consultando algumas das fontes disponíveis [1], com as quais construí o gráfico exposto abaixo, verificamos que as ocorrências ovni, no ano de 1954, começaram com dois EI 3º Grau, no mês de Maio, ocorridos na região norte do país. [2] No mês de Junho não é referida nenhuma ocorrência e no mês de Julho o cenário começa a alterar-se. Nesse mês houve alguma actividade ovni, com um total de três avistamentos, centralizados sobre a região das Beiras Alta e Baixa. No mês de Agosto houve uma nova quebra, havendo um novo crescimento de ocorrências em Setembro, com culminação em Outubro, seguida de decréscimo em Novembro e término com o fim do ano. Houve ainda um caso sem data definida, ocorrido durante o verão, na localidade algarvia de Olhão, onde foi observado um disco brilhante. O mês de Setembro ficou marcado pelo EI 3º Grau ocorrido no aeroporto da Ilha de Santa Maria, nos Açores, na noite de 20 de Setembro, tendo como protagonista o guarda nocturno Vitorino Lourenço Monteiro, que viveu uma experiência bastante insólita. Nessa noite pôde assistir à aterragem de um objecto charutóide na pista do aeroporto, de onde saiu um ser de aspecto completamente humano, que chegou a cumprimentar, com aperto de mão, o guarda, dirigindo-lhe ainda algumas palavras em língua estranha. O ocupante do veículo voltou a entrar no mesmo e partiu. Este caso foi incluído no Passaporte para Magónia, da autoria de Jacques Vallée. É um caso bastante estranho, principalmente devido ao comportamento e aspecto demasiado humano do ocupante do ovni. Este mês ficou também marcado pela fraude de Almaceda, nas imediações da Gardunha. É no mês de Outubro que se verifica o pico da actividade nesse ano, coincidindo com a vaga ovni em França. Nesse mês o aspecto dominante dos objectos observados, foi o de “charuto”, e várias vezes de charuto preto, havendo alguma correlação com o caso de 20 de Setembro.
Abaixo poderão observar o gráfico das ocorrências ovni, em Portugal, entre 1953 e 1954, sendo bastante perceptível a vaga ovni de 1954. O gráfico expõe as ocorrências em bruto, ou seja, estão incluídos todos os casos, mesmo as confusões ou fraudes, o que neste caso não altera os valores, pois só existem duas ocorrências desse tipo. Os dois casos, de Junho e Agosto de 1953, não têm data certa, podendo não ter ocorrido nesses meses. O caso de Agosto de 1954, não tem mês certo e o de 1955, do mesmo mês, também é indefinido.
Abaixo poderão observar o gráfico construído a partir dos dados expostos acima. É bastante evidente o aumento gradual no número de avistamentos, que têm vindo a ocorrer neste ano de 2004. O facto de serem quase todos protagonizados por pessoas mais próximas, ou seja, amigos, amigos de amigos, etc, é, a meu ver, mais um indício de que estejamos perante uma vaga ovni, pois, caso contrário, não seria normal haver um tão grande número de avistamentos por parte de um universo tão pequeno de observadores. Há a salientar ainda o facto de algumas das testemunhas terem observado fenómenos insólitos mais de uma vez, veja-se o caso das testemunhas da Fonte da Telha e Carcavelos, que curiosamente observaram a mesma coisa, ou coisa muito semelhante.
Entrei em contacto com o investigador espanhol Javier Garcia Blanco, via mail, pouco depois do caso de 1 de Junho, tentando obter alguma informação sobre avistamentos ovni em Espanha e expondo-lhe a minha opinião de podermos estar perante uma vaga ovni. Curiosamente o Javier Blanco, em resposta que me enviou, disse que também estava inclinado no mesmo sentido e no momento até estava a escrever um artigo sobre essa possibilidade, artigo esse que pode ser lido na revista ANO CERO, de Julho, que ainda está disponível em algumas bancas portuguesas.
Na fenomenologia ovni, é bastante evidente o fenómeno das grandes vagas. As mais famosas ocorreram em 1946, 1952, 1954, 1957, 1965, entre outros anos. Mas a de 1954 foi mesmo uma das maiores, e este ano, mais propriamente no início de Outono, comemora-se os cinquenta anos sobre a sua passagem. Curiosamente parece que os ovnis também voltaram para comemorar. É essa a questão que deveremos colocar neste momento: Será que estamos perante o início de uma nova vaga, semelhante à de 1954?
Já se especulou bastante sobre o porquê das vagas ovni, alguns relacionaram-no com a aproximação do planeta Marte à Terra, o que até pode fazer algum sentido (não esqueçamos a maior oposição de Marte da história, em 2003). Alguns fazem alguma correlação entre a actividade solar e número de avistamentos, teoria com a qual simpatizo um pouco. Mas na verdade muito haverá ainda por investigar, na tentativa de perceber o porquê das vagas ovni e o porquê dos ovni em si. Na verdade nem existe um fenómeno ovni, mas sim vários tipos de fenómenos aéreos e também submarinos, de teor idêntico, de diversas origens e explicações. Alguns de origem natural, mas num entanto, desconhecida, outros de origem natural conhecida, outros de origem humana, outros de possível origem extraterrestre inteligente, outros de origem inteligente, mas de possíveis mundos paralelos, etc. Passados quase sessenta anos sobre o início da ovnilogia moderna (a partir de 1947), muito pouco se avançou no desvendar deste mistério… Existem muitos motivos para as coisas terem acontecido assim, motivos esses que provêem das nossas próprias características humanas, do nosso modo de ser e da nossa mente problemática. Pedir um esclarecimento imediato sobre todo este mistério que envolve os ovni, que já de si são fugidios, é pedir de mais, mas o pior é quando os entraves vêem da parte dos próprios ovnilogistas, o que infelizmente acontece com bastante frequência. Como podemos desvendar um mistério penoso, quando nem nos conseguimos unir para esse efeito?…
Conclusão
O presente texto, feito um pouco em cima do joelho, diga-se de passagem, não pretende impor nenhuma teoria ou opinião, mas somente expor as mesmas e tentar trazer mais alguma informação sobre a actualidade ovni no nosso país. Tendo em conta os últimos acontecimentos, relacionados com o tema, fazia todo o sentido um texto como o presente. Agradeço a disponibilidade do espaço no site, fornecido pela Associação de Pesquisa OVNI (APO), e espero que a presente informação tenha sido útil ao leitor internauta. Se quiser comentar o presente texto, fornecer mais informações ou contradizer algo que tenha sido dito, não hesite em contactar-me através do endereço mail fornecido abaixo.
Filipe Gomes
filipgomes@hotmail.com
Referências/Notas
[1] “Os OVNIs e a Vida no Universo”, Sánchez Bueno, Edições António Ramos, 1978; “OVNIS em Portugal”, Joaquim Fernandes, editora Nova Crítica, 1978; “Os OVNI na Época Contemporânea”, Sánchez Bueno, Círculo de Leitores, 1992; PORTUCAT – Catálogo de casos ovni portugueses, Vítor Lourenço; Casuística em Portugal – PUFORA/Algarve; Anomalia, Volume 1/1993, CNIFO.
[2] É possível haver algum equivoco nas fontes e tratar-se apenas de um caso e não dois, mas inclino-me mais para a segunda possibilidade.
[3] Foi noticiado no dia 8 de junho de 2004, na TVI, SIC, Correio da Manhã e Diário de Notícias.
[4] Jornal de Notícias e SIC.