Gerhard Neukum, da Universidade Livre de Berlim, exibiu ontem, numa conferência da Sociedade Astronômica Americana realizada na Universidade de Cambridge, no Reino Unido, novas imagens que mostram de 50 a 100 vulcões supostamente recentes no pólo Norte marciano. É o que informa a rede britânica BBC.
Neukum é o cientista-chefe da principal câmera da sonda européia Mars Express, a HRSC (câmera estéreo de alta resolução, na sigla em inglês). Com ela, o pesquisador realiza trabalhos de cronoestratigrafia em Marte. O palavrão designa o esforço de tentar datar os diversos terrenos do planeta vermelho. A principal estratégia para obter as idades é simplesmente contar crateras numa dada região e também tentar observar quão velhas elas são, com base em quão erodidas estão.
Neukum já tem apresentado resultados desde o ano passado que sugeriam atividade geológica recente em Marte. Ele havia, por exemplo, realizado uma nova datação de áreas do monte Olimpo (maior vulcão do Sistema Solar) e concluído que algumas delas eram mais jovens e podiam sinalizar erupções recentes.
Claro, contar crateras depende de um monte de pressupostos e pode não ser tão bom quanto datar um terreno ao analisá-lo quimicamente. “Há um certo grau de incerteza”, disse à Folha Agustin Chicarro, cientista da ESA (Agência Espacial Européia) que trabalha na missão da Mars Express. “No entanto, em termos geológicos, nos quais as idades são medidas na escala de milhões de anos, isso até que funciona bem.”
Neukum, por exemplo, é um franco entusiasta do vulcanismo marciano. “Marte é um planeta que foi ativo muito recentemente -talvez 1, 2 ou 3 milhões de anos atrás”, disse em sua palestra. “E, em algumas áreas, eu tenho a impressão de que as coisas realmente ainda estão acontecendo.”
Possíveis soluções
Pressupor que Marte ainda tem algum vulcanismo resolve vários problemas -por exemplo, explicar como certos gases foram parar na atmosfera. A alternativa à explicação vulcânica seria pressupor a existência de vida hoje no planeta vermelho, um conceito ainda mais radical.
Para Chicarro, as duas coisas podem vir juntas. “Se a atividade vulcânica ainda estiver presente, mais provavelmente como atividade hidrotermal, significa que calor e, portanto, água líquida poderiam existir no subsolo em algumas áreas, o que aumenta as chances de a vida ter sido preservada, se é que chegou a se desenvolver lá, antes de tudo.” (SN)