Columbus (EUA) –
O estudo sugere que um grande objecto atingiu o lado escuro da Lua e enviou uma onde de choque ao centro do satélite, que chegou até uma parte da face que vemos. A crosta recuou – e a Lua carrega as cicatrizes do encontro até hoje.
A descoberta tem implicações na visão que se tem da Lua, e pode resolver um mistério sobre como os impactos que aconteceram no passado na Terra afectam a geologia do planeta actualmente.
As missões Apollo revelaram que a Lua não é perfeitamente esférica. Sua superfície é deformada em dois pontos; uma protuberância na face mais próxima da Terra é completada por uma grande depressão no lado mais distante.
Os cientistas imaginaram por muito tempo se essas características da superfície seriam causadas pela gravidade da Terra incidindo sobre a Lua no começo de sua existência, quando sua superfície ainda era derretida e maleável.
De acordo com Laramie Potts e Ralph von Frese, um pesquisador pós-doutorando e um professor de ciências geológicas, respectivamente, essas marcas são, ao contrário do que se pensa, resquícios de impactos anteriores.
Potts e von Frese chegaram a essa conclusão depois de usarem as variações da gravidade medidas pelos satélites Clementine e Lunar Prospector da Nasa para mapear o interior da Lua. Eles divulgaram os resultados em uma edição recente da revista Physics of the Earth and Planetary Interiors.
Eles esperavam ver os defeitos, abaixo da crosta da Lua, que corresponderiam a crateras na superfície. Impactos antigos, eles pensaram, teriam deixado marcas apenas até o manto, uma densa camada rochosa entre o núcleo metálico e a fina crosta externa. E foi exatamente isso que viram, a princípio.
Potts apontou para uma imagem da Lua em corte transversal que os cientistas criaram usando dados do Clementine. No lado escuro da Lua, a crosta aparenta ter recuado devido a um grande impacto. Abaixo da depressão, o manto se inclina para baixo, como ele e von Frese esperavam que fizesse, se tivesse absorvido um grande choque.
As evidências da catástrofe antiga deveriam ter terminado ali. Mas 1.126 quilômetros diretamente abaixo do ponto de impacto, um pedaço do manto invade o núcleo, ainda hoje.
Isso foi surpreendente o suficiente. “As pessoas não pensam nos impactos como coisas que alcançam o núcleo dos planetas” disse von Frese.
Mas o que eles viram do núcleo até a superfície da face que enxergamos foi ainda mais surpreendente. O núcleo tem uma protuberância, como se seu material tivesse sido empurrado no lado escuro e saído no manto do outro lado do satélite, e acima disso – na face mais próxima da Terra – existe uma protuberância na superfície.
Para os cientistas de Ohio, a maneira como essas marcas estão dispostas sugere que um grande objeto, como um asteróide, atingiu o lado escuro da Lua e enviou uma onde de choque ao centro do satélite, que chegou até uma parte da face que vemos.
Fonte: http://www.estadao.com.br/ciencia/noticias/2006/fev/10/142.htm