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Delírio ou realidade

PRECURSORA – Relegada ao panteão dos contados que surgiram no início da década de 50 do século passado no bojo do perigo nuclear, da paranóia da Guerra Fria e das primeiras incursões do homem pelo espaço, a pintora e colunista de ciência de um grande jornal carioca Alex Madruga merece hoje ser reconduzida ao seu verdadeiro lugar na história. Isso porque apesar de não ter escapado da influência de outros contatos, mormente de George Adamski, e de filmes de ficção científica, mormente de “The day the Earth stood still” (o dia em que a terra parou), já antecipava o “Seqüestro de Dormitório”, modalidade que só bem mais tarde viria a caracterizar, como o próprio termo da denota, as abduções. Além disso, foi uma das primeiras a alegar ter sido deitada sobre uma espécie de “mesa de operações” e toscamente anestesiada por uma “campânula” (objetivo em forma de sino) que desceu do teto da nave.

A ERA DAS ABDUÇÕES – Apenas para lembrar, a era das Abduções só se iniciou oficialmente com o rapto do casal interracial Barney e Betty Hill em 19 de setembro de 1.961, a partir do qual panorama quase que inteiramente dominado pelos contatos de cunhos religiosos e messiânicos dos altos e loiros “benevolentes” do espaço começará a ceder lugar à violência e ao sadismo dos baixinhos e sombrios alfa-cinzentos, culminando com a febre de abduções que a cometeria o mundo nas décadas de 80 e 90. Madruga se situa ao meio caminho entre Adasmki e os Hill. Se de um lado os seres descritos são ainda dos tipos angelicais e pacifistas, do outro comportamento dissimulado e evasivo e a presença de um monstruoso robô com “face de tamanduá e corpo parecida de uma rã apoiada nas patas traseiras”, prenuncia uma dramática e iminente transição.

REGISTROS DO CASO – O jornalista Roberto Botelho da Costa – que numa noite chuvosa de novembro de1963 viria testemunhar a aparição de um OVNI de cerca de 15 metros de diâmetro do topo de um pequeno morro numa vasta área despovoada do bairro de Guaianazes, extremo leste da cidade de São Paulo – deixou excelentes registros da longa entrevista que lhe concedeu Madruga. A partir deles, o seu companheiro de profissão, o jornalista, professor universitário, astrônomo amador e ufólogo A.S. August, produziu uma sensacional matéria, da qual nos valemos.

Com a isenção com que temos relatado casos em oportunidades anteriores a essa, deixaremos o leitor inteiramente à vontade para avaliar a narrativa, que só não transcrevemos na íntegra, poder infelizmente encontrar-se entrecortada. Em compensação, disponibilizamos o restante, que constitui a maior parte, em sua forma original, sem modificações. Interromperemos somente naqueles pontos em que comentários e observações se façam necessários.

“Fevereiro de 1958, numa casa mal assobrada de uma rua central de Angra dos Reis estado do Rio, aos trinta minutos do dia 22, todos dormem, apenas D. Alex ainda não se recolheu ao leito… Ouve passos no terraço; são estranhos porque não pode haver acordado àquela hora. Teme por isso, ser um ladrão, quem sabe mesmo um assassino. O intruso aproxima-se, misterioso, soturno, alheio ao terror que a invade. Em frente à janela, de costume aberta devido ao calor da época do ano, pára… Faz-se silêncio… Mais aterrador ainda. Ela se arma de coragem, olha-o, fixa aquele ponto distinto, retangular, por onde penetra o escuro-claro da noite, no qual se destaca um vulto alto, esguio, rosto oval, olhos dotados de brilho diferente. Semi-paralisada, ela ouve, então, uma voz que diz:

– Não precisa ter medo!

– Quem é você – quer saber D. Alex.

A pergunta, porém, perde-se no vácuo, é como se ele não tivesse ouvido. Olha-a firme, contudo, estende-lhe o braço com a mão espalmada, da qual deflui, parece, algo esquisito que penetra contra sua vontade roubando-lhe os movimentos e fazendo o seu corpo perder peso. Ato continuo, o vê transpor a janela e caminhar em sua direção, cada vez mais impossibilitando-a de reagir. Já bem perto D. Alex sente seu corpo levitar sob a mão direita do estranho, que a conduz janela a fora, em direção do terraço.

Sua consciência, ou lucidez, que persiste, entretanto, ao chegar adiante sofre novo golpe, pois distingue, próximo, um objeto esférico, circundado por uma plataforma imitando a aba larga de um chapéu. Manietada, já então, quase também sem sua consciência, abriga ao seu lado o homem, a quem não interroga, não sabe bem porque, sentindo, ao contrario, que lhe invade uma sensação de confiança: ele representa uma figura juvenil, de idade indefinida, olhos claros, nariz reto, lábios finos e bem talhados. Veste uma malha cuja tonalidade e corte se confundem com as linhas do corpo.

Súbito, ele bate um pé ao encontro do outro, D. Alex ouve um ruído semelhante ao do cristal em choque, acompanhado, simultaneamente, da idéia de que a gravidade fora abolida”.

É no mínimo interessante verificar aqui no clássico o livro infantil de L.Frank Baum publicado em 1900, “The Wizard of Oz” (O Mágico de Oz), bem como no filme homônimo que Victor Flemig dirigiu em 1939, a sonhadora garotinha Doroth, para retornar da fantástica Terra de Oz à sua casa no Kansas, também bate seus pés calçados com sapatinhos de rubi, representados por uma fada, um contra o outro, ao que é imediatamente “teletransportada”. A sensação é de deslocamento experimentada por Doroth ao ser arrebatada do Kansas e levada para a terra de Oz, se parece com as sensações experimentadas por pessoas raptadas por ÓVNIs. A estrada de Tijolos Amarelos, o Campo de Papoulas Mortíferas e a Cidade Esmeralda, bem poderiam ser paisagens de um outro planeta ou dimensão. A ufóloga britânica Jenny Randles afirmou em seus estudos que as vítimas de abdução sentem o que ela chama de “fator Oz”, “uma sensação de ausência de tempo e isolação sensorial em que a testemunha sente ter sido sugada pelo OVNI para uma espécie de vácuo onde apenas coexistem ela e o fenômeno”. Isso provavelmente ocorre quando uma pessoa está em estado de vigília confere uma situação natural, uma interpretação sobrenatural, manipulando subjetivamente a realidade objetiva. O detalhe dos pés baterem contra o outro acionando “magicamente” algum tipo de mecanismo que conduz uma nova realidade ou situação, revela o quanto as fábulas e os contos de fada influíram poderosamente e passaram a integrar e estudar o repertório cultural do fenômeno ÓVNI. Voltemos à narrativa:

“Esse fato permite que ela se erga sozinha, de sorte a deslizar em direção a um ponto de atração que se situa no objeto, de portas escancaradas, parado a uns cinco metros de distância. Mal chegada ao seu interior, a porta fecha-se rapidamente. Vê que sobre o centro do circulo há duas cadeiras unidas pelo espaldar. Senta-se numa delas, meio automaticamente, ao mesmo tempo em que verifica que na outra há alguém, que não é o ser que a trouxe para ali, mas um autômato, possivelmente, com vestimenta própria às longas viagens aéreas. Percebe, de resto, que essa figura é mais assustadora do que tudo que até ali lhe fora dado presenciar: cabeça, braços, pernas, tudo recoberto por uma espécie de escamas sobrepostas. A face tem muito de parecida com a de um tamanduá, com tromba, o que sugere a D. Alex ser um deposito de oxigênio solidificado para maior susto da terrícola, o estranho ser chama-lhe a atenção, por meio de sinais comunicando que ia ser feita a ligação entre a esfera e a plataforma que a rodeia. Esta última, a seguir, passa a girar em grande velocidade, enquanto a esfera permanece imóvel. Não há painéis de comando, apenas, uma linha horizontal, nas paredes da esfera, uns buracos semelhantes a vigias. Abaixo, projeta-se, uma tela, como se vindas do exterior, as imagens de pequenas cidades.

Num átimo, por tanto, no entretempo em que se absorveu em dar-se conta das particularidades do engenho de um lado, e a advertência do autômato, de outro, assombrosamente percebe que voa sobre um lugar que nada se parece com os que lhe são conhecidos, aqui na Terra” – disse Madruga.

COMPORTAMENTO – A maneira como agiu após o retorno da viagem de algumas horas – que acreditava ter feito até o nosso vizinho planeta Vênus -, também aproxima mais dos abduzidos do que dos contatos. Longe de propalando mensagens de advertência e salvação a humanidade com vistas a fundar uma seita mística, antes de qualquer coisa, duvidou de sua própria sanidade a ponto de procurar psiquiatras para que a examinassem. Andou de consultório em consultório por não achar verossímil a aventura que empreendera. Os médicos, porém, foram unânimes; poderia ter sido uma alucinação, mas Madruga não apresentava nenhum traço de desequilíbrio ou loucura, nada que indicasse padecer de males psíquicos.

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Luís Aparício

Luís Aparício

Chefe de redacção, fundador e activista.