O projeto como é ,ou deveria ser, do conhecimento de todos nunca deu em nada. Enfrentei algumas serpentes de plantão, mais o facto de que esta pretensa “convivência” com o fenômeno ufológico não passava de atitude demagógica e eleitoreira, onde os votos de uma imenso número de comunidades místicas, esotéricas, ufo-cultistas, ou simplesmente “doidonas” ( a maior parte em torno de Brasília) garantiriam um providencial adendo de votos a uma série de aventureiros, ligados a um grupo ligado ao atual governo,alguns “no más”.
Nunca, a não ser nas pessoas bondosas do Dr. Sérgio Barroso de Assis Fonseca (vice-reitor na época) ,do saudoso Bob Pratt e um pouco do Dr. Timothy Mulholland, atual reitor, não recebemos apoio nenhum (nem dos coleguinhas de “profissão”) e, no popular… fomos enganados.
Entretanto, um episódio acidental deu-me uma visão inesperada e “de dentro” dos bastidores do caso Trindade.
Nas conversas de elevador e pátio do Bloco G, do conjunto da Colina-UnB, onde ficam ao apartamentos de professores e os de trânsito, fiquei conhecendo uma pessoa interessante.
Era um cara já nos seus sessenta e poucos, corpulento, cabelos brancos. Era casado com uma alemã. Era dos mais respeitados professores da UnB, prestes a se aposentar.
Quando soube de meu propósito e objectivo ali, de início não fugiu à regra: fez brincadeiras, desqualificou o assunto. Mas aí eu já estava de posse das 18 fotos 18×24 da Operação Prato, tendo aparecido inclusive em página inteira do Correio Braziliense, segurando uma delas.
Além do que elas haviam sido expostas (corajosamente) no hall de entrada do Auditório Três Candangos, nas minhas primeiras palestras, por volta de 1990. Mas também não era novidade pois eu as expusera também no hall do Instituto de Educação de MG, numa palestra semelhante. Além de enviar cópias a Hynek, Bob Pratt, à antiga APEX de São Paulo. E eu as mostrei a ele.
Cerrado este parêntese, à certa altura, talvez pelas fotos e pelo sumário de casos que tenho, meu novo conhecido mudou de tom.
Soube então, que ele trabalhara como assessor parlamentar do Deputado Sérgio Magalhães, do PSB do Distrito Federal, isto é do Rio de Janeiro, que Brasília ainda não existia. E era um partido de oposição, de idéias socialistas, mas um pouco atrelado à antiga UDN.
Meu interlocutor contou-me que quando o episódio se deu, a Marinha e militares tentaram ocultar o facto.
Entretanto, o Deputado Sérgio Magalhães fez um veemente protesto, dirigindo carta à Marinha, exigindo a liberação da notícia e das fotos.
Estou certo de que deve ter sido uma carta, porque em pesquisa recente ,que fiz em Brasília, nos anais da Câmara Federal- não constam dos arquivos de notas estenografadas ou taquigráficas, nenhum pronunciamento em plenário do Deputado Sérgio Magalhães a respeito. Que aliás, é pai da atriz e diretora Ana Maria Magalhães, ex-atriz da Globo e recente diretora do filme “Lara, vida de Odete Lara.
O banzé chegou aos ouvidos de JK. E este, apesar de ser um homem tão dinâmico quanto falível, teve entre suas maiores qualidades, o horror a qualquer coisa que ferisse princípios democráticos, de liberdade de informação, de crítica, etc.
Basta dizer que só embarcou na construção de Brasília, quando um cidadão goiano, numa reunião em Jataí,Goiás, Toniquinho, cunhado do Senador Maguito Vilela, interpelou-o sobre a mudança da capital, PREVISTA NA CONSTITUIÇÃO. Estava na Constituição? Então ele mudaria. E o resto é conhecido.
JK,sabedor do episódio Trindade, pensou então em alguém de confiança. E chamou o Dr. Paulo Bittencourt, diretor e presidente do Jornal “Correio da Manha” que era um jornal sério, de centro, do qual aliás, eu era leitor assíduo.
Em audiência discreta, JK passou-lhe as fotos na base do “Paulo, pode publicar”. Mas meu interlocutor não soube me informar se foram cópias ou se foram negativos ou ambos.
E a coisa saiu em primeira página, manchete principal “Disco Voador na Ilha da Trindade”. Eu comprei este jornal, mas foi das coisas mais lamentáveis que perdi.
Meu interlocutor, contou-me isto pensando que isto era ainda segredo. Mas quando fui conferir, descobri que J. Allen Hynek citara o facto no livro “The Hynek UFO Report”, onde a intervenção de Sérgio Magalhães é citada, mas não o Correio da Manhã, que foi o primeiro a publicar.
Isto naquela característica de desleixo de não caprichar nas notícias daquilo que eles consideram quintal deles. Nomes truncados, datas erradas, aquelas coisas.
Nesse livro há até uma transcrição parcial de um adido militar americano, depreciando o episódio e a Marinha Brasileira, como coisa de farsante de doido. Eu não o tenho aqui, mas este comentário (e o meu protexto) estão reproduzidos no número 2 do Jornal Ufológico de BH, que publicamos aí por 1984/1985. Achei e quem o ler, concordará comigo, um tremendo desaforo.
Por isto, hoje vou dar uma de dedo duro, mas que ele me perdoe, porque o segredo não era, nem é tão segredo como ele pensava. Que ele me perdoe e vocês também, não o aborreçam.E acho que muitos até o aplaudiriam por ter passado este lado do caso para mim. Portanto, bomba: quem me contou isto foi o renomado professor (hoje aposentado) Luiz Alberto de Vianna Moniz Bandeira, um verdadeiro crânio e qualquer um da UnB diria isto. Era ele o jovem assessor parlamentar do Deputado Sérgio Magalhães.
Não sei se a atriz Ana Maria Magalhães era nascida, ou crescida o suficiente para saber disto. Mas pode-se perguntar a ela.
Mas aos quatro, Sérgio Magalhães, JK, Paulo Bittencourt e ao Professor Moniz Bandeira, devemos todos um muito obrigado caloroso. Mas principalmente a JK, em genial lance de homem mais do que democrata, inteligente e de visão, um gênio como estadista.
Alberto Francisco do Carmo