Poucos capítulos no desenvolvimento do Homo sapiens, como é conhecido o homem moderno, suscitam tantos debates quanto o do destino dos neandertais.
Menores e mais fortes do que os Homo sapiens, e com um cérebro maior, os neandertais viveram na Europa, em algumas partes do centro da Ásia e no Oriente Médio durante cerca de 170 mil anos.
Mas os traços de sua presença desaparecem entre 28 mil e 30 mil anos atrás. Neste ponto, o Homo sapiens, inteligente descendente das subespécies de seres humanos originários do leste da África, torna-se indiscutivelmente o chefe do planeta.
O que aconteceu com os neandertais?
Uma teoria sugere que não desapareceram repentinamente do mapa, mas que se misturaram gradualmente com os Homo sapiens no campo cultural e talvez também no domínio sexual. Como resultado, poderíamos ter entre nós algo do patrimônio genético dos neandertais.
No entanto, um recente estudo derruba esta teoria.
A nova pesquisa mostra que ambos os hominídeos coexistiram durante muito tempo, mas não há nenhuma evidência de que teriam se misturado. Mais: o estudo diz que, provavelmente, a linhagem dos neandertais foi extinta por causa da fome e da última glaciação.
“Gruta das Fadas”, no noroeste francês, em que foram encontrados incídios de coexistência entre neandertais com homens modernos
Paul Mellars, professor de pré-história e evolução humana da Universidade de Cambridge (centro do Reino Unido), e seus colegas dataram os esqueletos conservados por alguns arqueólogos franceses que escavaram cuidadosamente camadas de terra num lugar chamado “Gruta das Fadas”.
A gruta, situada entre os vales do Loire e de Alier (noroeste francês), é um famoso hábitat Neanderthal.
Mas o que torna o lugar especialmente interessante é que nele também foram encontradas ferramentas de osso e sílex com as marcas típicas dos Homo sapiens pré-históricos.
A equipe de Mellars aplicou os novos métodos de datação com carbono 14 para determinar a idade dos utensílios de osso e poder compará-los com as camadas de terra em que foram achados e com os conhecimentos sobre o clima da época.
Eles descobriram que foram os neandertais que viveram na gruta entre 40 mil e 38 mil anos atrás, quando o clima ainda era relativamente ameno. Em seguida, sobreveio uma repentina e prolongada onda de frio, durante a qual a temperatura caiu até oito graus centígrados. O Homo sapiens – que aparentemente emigrava para o sul em busca de um clima mais quente -, habitou nessa gruta há mil ou 1.500 anos. Neste momento, o clima esquentou ligeiramente, mas não o suficiente para garantir a sobrevivência dos neandertais. O número de Homo sapiens começou a crescer e o de neandertais a diminuir. Esta situação permaneceu durante um período que vai aproximadamente de 36,5 mil a 35 mil anos. Depois não há rastro dos neandertais.
“É a primeira prova categórica de que os neandertais e os humanos modernos coexistiram na França durante mais de mil anos”, disse Mellars à AFP.
Ele acrescentou que há evidências de que os neandertais eram vulneráveis ao clima e sentiram-se ameaçados pela ascensão de seu rival mais inteligente e adaptável.
“Acreditava-se que os neandertais estavam biologicamente mais adaptados para viver em condições glaciais do que os humanos modernos provenientes da África. Supunha-se que o homem moderno, mais alto e magro, teria mais dificuldade para conservar o calor”, acrescentou Mellars.
“A evidência é que os humanos modernos podiam responder melhor que os neandertais ao frio, devido à sua cultura e tecnologia. Possuíam roupas melhores, maior controle do fogo e melhores abrigos”, enumerou.
Mellars disse que os neandertais e os Homo sapiens viveram provavelmente perto uns dos outros durante longos períodos, mas não há evidência de interação cultural. A análise de DNA de 1.000 europeus não revelou nenhum rastro de genes neandertais.
Em resumo, as evidências mostram que provavelmente os Homo sapiens venceram os neardentais na luta pela vida.
“A extinção dos neandertais aconteceu em parte devido à baixa temperatura mas, sobretudo, por causa da competição por território, lenha e animais, numa época de frio extremo e recursos escassos”, concluiu Mellars