Para começo de conversa, os dentes estão 600 km a leste da extensão máxima atual do território dos macacos. Pior: encontram-se do lado “errado” do Grande Vale da Fenda, uma falha geológica no coração da África que, supostamente, teria sido uma barreira impenetrável para os chimpanzés e até ajudado a separar a linhagem deles da que seria a humana.
“Estávamos atrás de ferramentas de pedra e de hominídeos [ancestrais diretos do homem]. Certamente nunca esperávamos encontrar chimpanzés ali”, disse à Folha Sally McBrearty, da Universidade de Connecticut (EUA). Ela e sua colega Nina Jablonski, da Academia de Ciências da Califórnia, acharam os restos, dois incisivos e um molar, no Quênia.
Há indícios de que o pré-chimpanzé conviveu com formas arcaicas do gênero Homo, o mesmo ao qual pertencem os humanos modernos. Embora seja só a ponta do iceberg, já que as duas linhagens se separaram milhões de anos antes, McBrearty diz acreditar que os dois tenham convivido praticamente lado a lado por esse tempo todo.
“Achávamos que o vale e a presença de savanas tinham permitido a separação entre as linhagens. Mas parece que os chimpanzés também eram capazes de habitar esse mesmo mosaico de habitats e atravessar o vale. Então, acho que precisamos encontrar outra razão”, afirma. O estudo também está na revista “Nature”.
REINALDO JOSÉ LOPES
DA REPORTAGEM LOCAL