Ou talvez exista uma civilização em outro lugar da galáxia. Não creio que haja muitas mais”, afirmou.
Uma única civilização entre 200 milhões de estrelas? Seria um desperdício de estrelas, não? A este jornalista, que evidentemente conhece muito menos do que Butler sobre o assunto, o resultado pareceu bastante pessimista.
Por isso, algumas semanas depois, quando me encontrei com George Smoot em Cannes, durante a apresentação do telescópio espacial Planck, da Agência Espacial Européia, aproveitei para fazer uma pergunta que me intrigava. “George, você chegou a brincar com alguns números para as incógnitas da equação de Drake?”, perguntei. E ele respondeu que evidentemente sim, que isso é algo que já foi feito em seu campo de atividade.
O campo de atividade de Smoot é a astrofísica, mais concretamente o estudo da radiação de fundo presente no universo, também definida como “eco do Big Bang”, trabalho pelo qual ele recebeu o Nobel de Física no ano passado. Uma das paixões de Smoot é refletir sobre o lugar dos seres humanos no universo, e sobre questões como a equação de Drake. Perguntei que resultado ele havia obtido. A resposta: média de uma civilização para uma galáxia do tamanho da nossa, a cada dado momento.
Uma das vantagens da equação de Drake é que não é necessário ser especialista para lidar com ela. Na verdade, os especialistas sabem tão pouco quanto qualquer outra pessoa, na hora de atribuir valores experimentais às incógnitas. Com uma exceção: o ritmo de formação de estrelas em nossa galáxia é de cerca de seis ao ano, explicou Butler. “Trata-se do único parâmetro”, argumentou, “que conhecemos com alguma precisão. Quanto a todos os demais, só podemos especular”.
Quantas estrelas têm planetas? Foi a responder essa pergunta que Butler dedicou sua carreira, mas ele ainda não encontrou resposta para ela (ainda que espere obtê-la nos próximos anos). Quantos desses planetas são habitáveis? Um, por enquanto, no sistema solar; em outros sistemas, nem idéia. Quantos deles poderiam abrigar formas de vida inteligente que desejem se comunicar com extraterrestres? Todas as opiniões são válidas.
Drake calculou que no momento deve haver cerca de 10 civilizações com as quais poderíamos nos comunicar, em nossa galáxia, e em 1961 ele deu início ao programa de radioastronomia Seti (acrônimo em inglês para “busca por inteligência extraterrestres”). A idéia básica do Seti, na qual se inspira o filme Contato, protagonizado por Jodie Foster, é a de que talvez possamos captar sinais de outras civilizações, da mesma maneira que elas poderiam captar nossos sinais de TV e rádio. Drake tem 77 anos, agora, e depois de quatro décadas escutando a galáxia ainda está à espera de captar o primeiro suspiro de um extraterrestre.
Mas existe algo de ainda mais desolador na equação. Trata-se do último parâmetro, que estabelece o tempo de vida média de uma civilização avançada o bastante para se comunicar com extraterrestres, um parâmetro que pressupõe que o nosso destino seja a extinção.
Será que não haveria outra maneira de resolver a equação, para que nossas férias não precisassem acabar assim?
Tradução: Paulo Migliacci ME – La Vanguardia
Fonte: Portal Terra