De tempo a tempos, tenho publicado reportagens ou séries de reportagem, nas quais levo ao conhecimento do público o resultado dos meus esforços. Os que acompanham êstes meus escritos, são testemunhas do critério e do equilíbrio em que tenho me mantido num assunto tão fácil de descambar para o sensacionalismo inconseqüente ou para a fantasia desbragada.
Por isso mesmo. tenho hoje o privilégio de ser conhecido e acatado pelos investigadores mais bem informados e mais sérios que, no Brasil e em muitos outros países estão empenhados na pesquisa objetiva e honesta dêste mistério.
Para êsses, o caso da Barra da Tijuca é um dos chamados “casos clássicos” da crônica mundial dos “discos voadores”.
De tempos em tempos, quando algum caso de “disco voador” se torna mais sensacional não falta o aparecimento de alguém que, em busca de um cartaz fácil, se atire ao ataque das fotos de Ed Keffel, como se essas fotos fôssem as únicas que provassem a existência dos “discos”, como se o incidente da Barra da Tijuca não fôsse apenas um, dentre milhares de outros.
Ora é um fotógrafo qualquer que, ridiculamente, joga pratos para cima e declara, da forma mais primária, que êle também pode tirar fotos de “discos voadores”… Ora é um “cientista”, de almanaque que, buscando desesperadamente estabelecer polêmica a fim de arranjar publicidade barata para si próprio, investe da forma mais grosseira e menos “científica” possível contra êste repórter, contra Keffel, contra todos os que testemunharam ou levam a sério os “discos voadores”, sejam êles civis ou militares, leigos ou técnicos.
Da minha parte, nunca me dei ao trabalho de responder a êsses adversários gratuitos. Tenho seguido, impertubàvelmente, no meu caminho, pois de outra forma ficaria encalhado em discussões inúteis que nem ao menos se poderiam manter em plano elevado.
Apresento fatos aos meus leitores. Se alguém não crê ou se recusa a crer nestes fatos, o problema não é meu. Mesmo que nunca tive a intenção de “converter” ninguém: os “discos voadores” não são, para mim, uma questão de crença, nem uma obsessão. Como repórter, encaro-os como um fascinante assunto jornalístico.
Pessoalmente, estou certo da tremenda importância que êles podem ter no decurso da nossa evolução, principalmente nesta época em que damos os primeiros passos rumo ao nosso satélite e aos planetas mais próximos.
Os documentos e o relato que trago hoje aos leitores não têm, portanto, o sentido de defesa ou justificação.
A presente publicação representa apenas uma consideração para com todos aquêles (e são a maioria) que formam ao nosso lado. Conhecendo, desde 1954, o estudo feito pela FAB a respeito do caso da Barra da Tijuca, eu poderia tê-lo publicado muito antes, se quisesse colocar-me voluntàriamente na posição de réu que se defende, ou de acusado que se justifica.
Nunca senti a necessidade de me pôr nessa posição. Tinha a consciência tranqüila e a satisfação íntima de contar com a confiança e a amizade dos que acompanham o assunto, procurando antes, informa-se bastante a respeito, e dos investigadores civis e militares que poderiam, em sã consciência, ter uma opinião a respeito.
Para mim e para Keffel, a opinião de um homem como o Cel. Adil de Oliveira sempre valeu mais do que a de cem amigos gratuitos ou a de cem “descrentes” sem base.
O que os leitores vêem nestas páginas e o que vão ler a seguir é o que foi mostrado e dito, na TV Continental, Canal 9, do Rio de Janeiro, na noite de 11 de outubro, por Fernando Cleto, na segunda apresentação do seu programa semanal, já vitorioso, denominado “O Enigma do Espaço”. Fernando Cleto é um alto funcionário do Banco do Brasil.
Há mais de dez anos que vem investigando os chamados “discos voadores”. É um dos pesquisadores civis mais credenciados no Brasil. Conta com a colaboração de investigadores civis e militares, altamente informados a respeito.
O que ele revelou, no seu programa, em absoluta primeira mão, e que vai aqui reproduzido, ganha ainda maior valor para nós, quando sabemos que nem êle nem a TV Continental fazem parte dos “Diários Associados”.
O que vão ler, portanto, é o depoimento de um homem cuja única ligação conosco é apenas uma: a honestidade de propósitos, o interêsse de descobrir e revelar a verdade. Aqui está, sem tirar nem pôr, o que Fernando Cleto revelou ao seu grande público:
Oficiais da FAB foram ao local, imediatamente após o caso, e lá fizeram todas as pesquisas. Posição do sol, distâncias, trajetória do objecto, jôgo de luzes e sombras, altitude, tudo foi objeto de estudos que depois, transportados para o papel e comparados com as fotos, determinaram a autenticidade das mesmas.
Uma análise minuciosa do relato, das várias possibilidades de fraude, de outros testemunhos surgidas e até mesmo da vida profissional e da personalidade dos repórteres, foi realizada. A conclusão foi positiva.
Na Barra da Tijuca, os ofíciais da FAB jogaram uma reprodução em madeira do “disco”, para o ar, inúmeras vezes, tentando reproduzir a seqüência de cinco fotografias tais como aparecia no filme de Ed Keffel, cujos negativos não foram cortados. Uma fotografia convincente, por êsse processo, é possível obter-se, dentre muitas que se botam. Entretanto, uma seqüência de cinco, em várias posições, é pràticamente impossível de ser batida em seguida.
Além de tudo, foram determinadas tècnicamente as distâncias do objeto.
“No dia 7 de maio de 1952, João Martins e Ed Keffel encontravam-se na Barra da Tijuca, com o intuito de fazer uma reportagem de rotina. Às quatro e meia da tarde, inesperadamente, João Martins viu um objeto que vinha no ar em grande velocidade.
A princípio pensou que fosse um avião visto de frente. No entanto, Martins estranhou porque aquilo, se fôsse avião mesmo, estava voando de lado.
Exclamou: “Que diabo é aquilo?” Keffel estava com sua máquina Rolleflex a tiracolo e Martins gritou: “Bata, Keffel!” Ed Keffel, com grande habilidade, disparou a sua máquina cinco vêzes, no espaço de um “disco voador”.
Dezenas de pessoas viram o “disco” naquele dia e comentaram o fato antes de fotografia serem publicadas. Naquela mesma ocasião, o Adido Militar à Embaixada dos Estados Unidos, junto com oficiais brasileiros, examinou os negativos da seqüência e declarou:
– Não tenho a menor dúvida sôbre a autenticidade das fotos divulgadas pelos repórteres de “O Cruzeiro”.
Na época, acompanhávamos com grande interêsse o desenrolar dos acontecimentos, quando mais tarde surgiram testemunhas afirmando ter visto homens jogando para o ar e fotografando um disco, exatamente no mesmo local das fotos de Keffel.
Essas declarações vieram estabelecer uma dúvida no nosso espírito. Dúvida que perdurou até o ano de 1954.
Em 1954, o Brigadeiro Eduardo Gomes, então Ministro da Aeronáutica, nomeou o Coronel João Adil de Oliveira para chefiar a primeira “Comissão de Investigadores sôbre os Discos Voadores” criada em nosso País.
Um dia, recebi um telefonema do Coronel Adil, pessoa que não conhecia.
Convidou-me a comparecer ao Estado-Maior da Aeronáutica a fim de prestar alguns esclarecimentos em tôrno de um fato relacionado com “discos voadores” ocorrido em 1948. Chegando lá, encontrei outros convidados: oficiais da esquadrilha de aviões a jacto da Base Aérea de Gravataí, que falavam sôbre dois “discos” que haviam sobrevoado aquela base durante horas seguidas. Um pilôto civil, por seu lado, contava que, tendo o seu avião sido seguido por um “disco”, modificava seu plano de vôo, pousando em São Paulo.
Em determinado momento, João Martins e Ed Keffel chegaram ao Estado-Maior, também convidados pelo Cel. Adil.
Naquele dia, ouvi, vi e aprendi muita coisa… Mas o que realmente interessa é que, a certa hora, o Coronel Adil mandou buscar um “dossier”. Ao recebê-lo, declarou que ali estava todo o estudo que a FAB havia feito em tôrno do caso da Barra da Tijuca.
Ao abrir o volume, que era enorme, caiu inesperadamente sôbre a mesa um disco de madeira. Houve um súbito silêncio naquela sala…
Que seria? A FAB teria apurado alguma fraude? O próprio Coronel Adil rompeu o silêncio dizendo mais ou menos o seguinte:
– Você se lembra, Martins, que algumas pessoas declararam ter visto homens jogando um disco para o ar e fotografando?
Realmente êles viram êste disco que aqui está, mas nós sabemos que não foi jogado por vocês, porque êle foi jogado por nós da FAB, que nos dias seguintes ao fato fomos para o local fazer minuciosos estudos em tôrno das suas fotografias. Inclusive andamos jogando êste disco para o ar, numa tentativa de reproduzir uma seqüência como a de vocês.
Sempre tive vontade de contar êste fato pùblicamente e, agora, tendo surgido esta oportunidade procurei o Coronel Adil e por êle fui autorizado a fazê-lo, inclusive me cedendo o modêlo de madeira.
Em 1952, falava-se do desinterêsse da FAB pelo assunto ligado aos “Discos Voadores”, o que não era exato. Consegui do Coronel Adil uma pequena parte dos documentos que integram o “dossier” a que já me referi, organizado pela FAB, em 1952.
Vou mostrar alguns, dêsses documentos para que os telespectadores se certifiquem do fato. Lembramos porém que êles representam o resultado de um estudo sério destinado ao arquivo da FAB.
Temos aqui um estudo em tôrno da fotografia n.º 3. O mesmo estudo foi feito para cada fotografia da seqüência. Este documento mostra estudos relativos a azimute, distância zenital, declinação e ângulo horário. Nas figuras 3 e 4 aparece a trajetória do Sol, posição de onde foram tiradas as fotos e a posição das árvores que aparecem na foto n.º 3. Êste outro documento foi feito para analisar a foto n.º 1. Nele vemos estudos de perspectiva onde se verifica a inclinação da linha de visada com o horizonte, bem como a inclinação do plano do “disco” e ainda a altitude que, no momento da fotografia, era de 490 metros e a distância ao observador, que era de 1.500 metros.
Para melhor entendimento, vamos fazer no quadro-negro uma representação esquemática do que acabamos de dizer, assinalando as posições do observador e do objeto. As posições do objeto são obtidas em face do azimute que a FAB calculou para cada fotografia.
E sucessivamente temos: na foto 2° objeto está a 2.000 m de distância e 930 de altitude. Nas fotos 3, 4 e 5, respectivamente a 1.200, 1.100 e 3.000 m de distância e 940, 720 e 580 de altitude. Todos êsses movimentos confirmam exatamente a descrição que dêles fêz João Marins, em 1952.
E mostram também a impossibilidade de fraude, uma vez que não é exeqüível jogar um “disco de madeira” nas distâncias registradas.
Outro esclarecimento deve ser dado para explicar a foto n.º 1.
Ela sempre representou um entrave na interpretação da seqüência. Nela temos a impressão de ver uma hélice na parte inferior do “disco”, enquanto nas demais não existe tal hélice. Pela reconstituição em outro documento do estudo feito pela FAB, verifica-se perfeitamente que o “disco” da foto 1 é o mesmo do resto da seqüência.
O que nos dá a falsa impressão de dois planos é apenas um efeito de luz e sombra.
Telespectadores: as críticas feitas em 1952 à Fôrça Aérea Brasileira foram injustas. A FAB examinou o assunto em profundidade.
Quanto à autenticidade das fotografias de Ed Keffel e João Martins, como viram, temos suficientes razões para fazer uma afirmativa: elas são verdadeiras”.