“Como astrónomo, continuo a acreditar que Deus foi o criador do Universo”, explicou hoje, numa entrevista ao jornal do Vaticano Osservatore Romano, o padre Funes de 45 anos, um padre jesuíta que dirige o Observatório do Vaticano em Castel Gandolfo, perto de Roma.
Cidade do Vaticano, 13 Maio 2008
“Isso não contradiz nossa fé porque não podemos colocar limites à liberdade criadora de Deus”, acrescentou Funes, em entrevista ao jornal L’Osservatore Romano, órgão oficial de imprensa da Santa Sé.
Na entrevista ao jornal do papa, o padre Funes, jesuíta argentino de 45 anos de idade, cita São Francisco ao dizer que possíveis habitantes de outros planetas devem ser considerados como nossos irmãos.
No entanto, acrescenta, mesmo que “não tenhamos para já nenhuma prova”, “não podemos excluir a hipótese” de haver outros planetas habitados.
“Tal como existe uma multiplicidade de criaturas na terra, poderia haver outros seres, igualmente inteligentes, criados por Deus”, afirma o astrónomo do Papa.
O padre Funes sugere que se fale então do “nosso irmão extraterrestre”, tal como São Francisco de Assis falava de “irmão” ou de “irmã” para todas as criaturas terrestres.
Na opinião do astrónomo do Vaticano, podem haver seres semelhantes a nós ou até mais evoluídos em outros planetas, ainda que não haja provas da existência deles.
“É possível que existam. O universo é formado por 100 mil milhões de galáxias, cada uma composta de 100 mil milhões de estrelas, muitas delas ou quase todas poderiam ter planetas”, afirmou Funes.
“Como podemos excluir que a vida tenha se desenvolvido também em outro lugar?”, acrescentou. “Há um ramo da astronomia, a astrobiologia, que estuda justamente este aspecto e fez muitos progressos nos últimos anos.”
Segundo o cientista, estudar o universo não afasta, mas aproxima de Deus porque abre o coração e a mente e ajuda a colocar a vida das pessoas na “perspectiva certa”.
Padre Funes diz ainda que teorias como a do Big Bang e a do evolucionismo de Darwin, que explicam o nascimento do universo e da vida na Terra sem fazer relação com a existência de Deus, não se chocam com a visão da Igreja.
“Como astrónomo, eu continuo a acreditar que Deus seja o criador do universo e que nós não somos o produto do acaso, mas filhos de um pai bom”, afirma.
“Observando as estrelas, emerge claramente um processo evolutivo, e este é um dado cientifico, mas não vejo nisso uma contradição com a fé em Deus.”
Ateísmo
Na visão do religioso, estudar astronomia não leva necessariamente ao ateísmo.
“É uma lenda achar que a astronomia favoreça uma visão atéia do mundo”, disse o padre. “Nosso trabalho demonstra que é possível fazer ciência seriamente e acreditar em Deus. A Igreja deixou sua marca na história da astronomia.”
Director da Specola Vaticana desde 2006, padre Funes lembrou na entrevista que astrónomos do Vaticano fizeram importantes descobertas como o “raio verde”, o rebaixamento de Plutão e trabalhos em parceria com a Nasa, por meio do centro astronómico do Vaticano em Tucson, nos Estados Unidos.
A sede do observatório do Vaticano se localiza em Castelgandolfo, cidade próxima de Roma, onde fica situado o palácio de verão do papa, desde 1935.
O interesse dos pontífices pela astronomia surgiu com o papa Gregório 13, que promoveu a reforma do calendário em 1582, dividindo o ano em 365 dias e 12 meses e introduzindo os anos bissextos.
Parece que todos os anos aparecem declarações deste astrónomo do Vaticano, como foi aquela que colocamos abaixo publicada em 2007 e outra publicada aqui no site da APO em 2006.
“O telescópio é um instrumento que ajuda a procurar Deus”
4 Outubro 2007
Faz exactamente 3 anos e um mês que ganhei um telescópio. Eu sempre quis ter um para ver mais de perto as maravilhas celestes criadas por Deus.
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O Vatican Advanced Technology Telescope (VATT) no Monte Graham, Arizona
O director do Observatório Astronómico do Vaticano assegurou que a Igreja não tem medo da ciência e que “o telescópio é um instrumento que ajuda a procurar Deus”.
O jesuíta argentino José Gabriel Funes falava à margem da conferência internacional sobre formação e evolução das galáxias em forma de disco, a decorrer na Universidade Gregoriana de Roma.
Este responsável defende que a ciência serve para questionamentos que vão “além das questões científicas” e permite aos fiéis poder “perceber a existência de Deus”. O Pe. Funes lembrou ainda que, em muitos ramos da pesquisa científica, os sacerdotes e homens da Igreja têm sido os primeiros a apresentar estudos inéditos. Um total de 210 astrónomos de 26 países do mundo participam, de 1 a 5 de Outubro 2007, na conferência internacional organizada pelo Observatório Astronómico do Vaticano.
O Observatório Vaticano foi fundado em 1891 por Leão XIII para mostrar que “a Igreja e os seus pastores não se opõem à ciência autêntica e sólida, tanto humana como a divina, mas abraça-a, impulsiona-a e promove-a com a mais completa dedicação”.
Apesar de a sede central do Observatório Vaticano ser em Castel Gandolfo, fundou-se um segundo centro de pesquisa, “The Vatican Observatory Research Group” (VORG) em Tucson, Arizona (EUA) no ano de 1981, quando o céu de Roma estava demasiado brilhante para a observação. Este segundo centro é uma das maiores e mais modernas instituições de observação astronómica.
Em 1993, em colaboração com o Steward Observatory, o Observatório Vaticano completou a construção do Vatican Advanced Technology Telescope (VATT) no Monte Graham, Arizona, considerado um dos melhores lugares astronómicos na América do Norte continental.